Associação das Colectividades do Concelho do Barreiro
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“Aprendi a ser homem na biblioteca d’ ‘Os Leças’”

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João dos Reis - “Barreiro Reconhecido” na área do Associativismo pela autarquia.
 
Nasceu na Lagoa, no Algarve, mas veio com quatro anos para o Barreiro. Para falarmos com João dos Reis, que foi recentemente agraciado com o galardão “Barreiro Reconhecido” na área do Associativismo pela autarquia barreirense, dirigimo-nos à sua “casa”, o Grupo Dramático e Recreativo ‘Os Leças’, e encontrámos um homem que tem muito para contar sobre o que significa a palavra associativismo.

Apaixonado pelas viagens, João dos Reis, munido dos seus recortes, jornais, cartas e do que tem feito a sua vida, fez questão em dizer que ‘Os Leças’ foram a primeira colectividade a fazer uma sessão eleitoral no período da ditadura para o general Norton de Matos”.
 
Jornal do Barreiro (JB): Mora no Barreiro desde os quatro anos. Considera-se mais barreirense do que algarvio?

João dos Reis (JR): Sim, eu nunca conheci o Algarve.

JB: O que mais recorda do Barreiro?

JR: Dos meus tempos de mocidade, as pessoas eram mais aguerridas, mais unidas, pelo menos a juventude, que estava nas colectividades e hoje, isso é diferente. A televisão também mudou tudo. Antigamente, os jovens vinham para as colectividades, pois esse era o ponto de encontro para se juntarem. É como as bibliotecas. Hoje há alguma biblioteca a ser utilizada sem ser a Municipal? Já há mais de 12 anos que não sai um livro da nossa biblioteca [d’ ‘Os Leças’].

JB: E ‘Os Leças’ são a sua casa…

JR: Sim, esta é a minha casa. Moro já aqui em frente e é só atravessar a rua e venho para aqui todos os dias. Se não tivesse esta casa, para onde é que eu ia?

JB: Pode recordar-nos como é que esta casa foi criada?

JR: Esta casa nasceu numa barbearia, no lado da Escavadeira, e o dono desse estabelecimento chamava-se Leça do Balio e o pessoal que se juntava ali chamava àquele local Barbearia dos Leças. E foi assim que se juntou um grupo de indivíduos e formaram a colectividade ‘Os Leças’. Depois ainda passaram pela Rua do Lavradio e por outros locais antes de ficarem aqui na Rua do Brasil, quando se arranjou dinheiro para comprar este terreno. Nessa altura, devia ter cerca de 11 anos.

JB: O que o levou a começar a frequentar ‘Os Leças’?

JR: Quando vim para aqui, já era um homenzinho e ajudava a dar tijolos para construir esta casa que foi crescendo, crescendo. Na altura, éramos miúdos e não tínhamos mais nenhum sítio para onde ir. Vínhamos aqui aos bailes, jogávamos às cartas e também tínhamos o Grupo Dramático, cujo ensaiador, nesse tempo, era o Artur Neto. Tínhamos também um conjunto musical que eram ‘Os Lusitanos’. E começaram a juntar-se sócios.

JB: Também foi o fundador da Biblioteca da colectividade nos anos 40. Como é que foi concretizar esse “sonho”?

JR: Esse foi o melhor sonho que tivemos para a juventude. Na altura, tínhamos como guia o senhor José da Silva, que era empregado nos Ferroviários. Juntávamos aqui os livros que conseguíamos e esta tornou-se uma das melhores bibliotecas do Barreiro. Lembro-me de ‘O Carnaval da Morte’, de Albano Negrão, mas havia muitos livros, quer do Jorge Amado, quer do Alves Redol e de outros autores. E, depois, podia-se fazer aqui o empréstimo de livros e 20 dias eram 50 centavos. Eu aprendi a ser homem aqui na biblioteca, através dos livros e do companheirismo.

JB: Os seus familiares também estão ligados a esta casa?

JR: Sim, até os meus bisnetos. Até a de cinco anos é sócia da colectividade.

JB: Também fundou, na década de 60, uma Comissão Cultural com os jovens que iniciaram no Barreiro o Movimento Unitário Democrático Juvenil. De que se tratava esse projecto?

JR: Nesse tempo, a juventude juntava-se contra a guerra e para falar sobre os problemas da sociedade e da juventude. À noite também escrevíamos coisas pelas paredes. “Abaixo a guerra, abaixo o fascismo”.

JB: E como é que foi a sua vida aqui no Barreiro?

JR: Comecei a trabalhar quando aqui cheguei na Carpintaria Mecânica Barreirense, com 11, 12 anos. Depois fui para a Cordoaria Jacinto Nicola, onde fiquei até aos meus 20 e tal anos, até às greves grandes [anos 40]. E depois surgiu um episódio. Porque, quando o meu pai veio para o Barreiro, eu devia ter ido à inspecção mas deixámos passar e depois, no período das greves grandes, fui despedido da Cordoaria e fiquei sem trabalho e, na altura, já era tesoureiro n’ ‘Os Leças’. Depois, quando fui fazer a inspecção, fiquei três anos na vida militar. Nessa altura, houve um interregno na minha presença n’ ‘Os Leças’. Depois, quando cheguei ao Barreiro, passados três ou quatro dias, empreguei-me na CUF (a 22 de agosto de 1946).

JB: Também foi sempre um combatente pela liberdade e pela democracia, o que lhe valeu a prisão durante 180 dias…

JR: No meu papel de admissão na CUF pode ler-se que a 8 de Novembro de 1954, por motivo de ausência ao trabalho desde 13 de Setembro de 1954, fui demitido. Mas não foi ausência. Eu não faltei ao trabalho, a PIDE foi-me buscar ao trabalho e estive em Caxias seis meses. Mas nunca me bateram. Fui interrogado 19 vezes e a pessoa que me denunciou esteve na minha presença a dizer que tinha sido eu que tinha mandado fazer as rifas para ajudar os presos políticos. Ele a dizer que sim e eu a dizer que não.

JB: Quando saiu da prisão, para onde foi trabalhar?

JR: Logo quando saí da prisão, apresentei-me ao trabalho e eles sabiam bem que eu não tinha faltado ao trabalho e disseram-me que eu tinha de apresentar um documento assinado pela PIDE. Mas na PIDE queriam que eu assinasse um papel que dizia que, a partir dessa data, eu deixava de fazer parte de organizações subversivas e eu não assinei.

Não tinham confirmado nada, nem tinham provas de que eu vendesse rifas e queriam que eu assinasse? Não assinei e nunca mais trabalhei na CUF. O que vale é que os meus amigos sempre me ajudaram e arranjaram-me trabalho no mercado no Bairro das Palmeiras, onde vendia hortaliças. (…) Mas depois, ainda estive um ano na clandestinidade e só voltei ao Barreiro no tempo eleitoral do Humberto Delgado. Também trabalhei na Companhia Nacional de Electricidade, onde me arranjaram emprego, e trabalhei na Siderurgia.

JB: Como é que foi ter sido galardoado na iniciativa ‘Barreiro Reconhecido’?

JR: Quase tive para não aceitar. O que eu queria fazer era entregar esse galardão à Biblioteca Municipal do Barreiro. Sentia-me na obrigação disso. Como as bibliotecas estão praticamente todas fechadas nesta altura, sentia que devia oferecer esse reconhecimento à Biblioteca.

JB: ‘Os Leças’ também têm reconhecido o seu papel e importância nesta casa, inclusivamente a sala da direcção tem o seu nome…

JR: Aqui tenho sido sempre muito acarinhado. Sou um filho e trabalhador da colectividade. E sempre fiz o que podia fazer por ‘Os Leças’.

Jornal do Barreiro

2012-07-27, Andreia Catarina Lopes



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